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A mostrar mensagens de 2019

Ce Soir | Parte I

Era para ser um dia normal, como todos os outros (pelo menos nos últimos dias), em que eu saía do trabalho com as minhas frustrações profissionais e pessoais, levava meu corpo até ao Backroom para encher a cara, voltar para casa embriagada e simplesmente “falecer” na cama de algum estranho. Era para ser… mas hoje dei por mim sentada no bar, a acariciar um copo de cerveja que já não sabia a nada, há quase uma hora. Perdi a conta de quantos homens sentaram ao meu lado, sedentos por um dedo de conversa ou a oferecer sua miserável companhia e mais um copo de cerveja. Outros eram estranhamente atrevidos e de certeza cheios de dinheiro para gastar com a minha notável falta de interesse – sem gozo, havia cinco coquetéis diferentes na minha cara, três shots de Tequila e honestamente, nada daquilo me interessava… eu só queria um pouco de paz naquela turbulência, afinal de contas é quinta-feira e isto está lotado, é completamente estranho desejar sossego com esta aparência de carência.

Cais 27

Sobre a vida … o que há para dizer? As vezes pode parecer um mar de ilusões, onde só enxergamos o que nos convém e entre um e outro aeroporto, muitos vem, poucos voltam e quase ninguém permanece. Mas por outro lado, pode ser um espetáculo alegórico, repleto de momentos de fantasia que nos dão a sensação de felicidade plena, onde nos sentimos super-heróis, donos do mundo. Mas, aprendi que é curta, há coisas que vão e não voltam; aprendi sobre a importância dessas coisas e que de nada vale esperar pelo fim para poder dar o devido valor. A vida não complementa o tempo, o tempo não espera e segunda chance é uma mentira – são laços rompidos, que quando remendados, não tem a mesma beleza. Sobre família … o que há para dizer? Não se escolhe, não é como nas novelas, não é romântico, mas é tudo que precisamos na vida. Não são mil, não são todos eles, são aqueles que realmente cuidam, são aqueles que não nos esquecem, são aqueles que morreriam por nós... literalmente. São parte de nós, nos

EN4

Tinha 10 anos quando pela primeira vez sentei no colo do meu pai e tomei conta do volante, mas mesmo ainda que quisesse comandar o carro por completo, era muito baixinha para alcançar os pedais. Nessa altura já conhecia o código de estrada tal como um crente fanático conhece a Bíblia, enfim. Eu era muito esperta, tão esperta que os meus amigos diziam: "Se a vida fosse uma novela, o teu nome seria Soninha 38". Anos se passaram e claro, fiquei craque – meu pai era amante de drifts , um preto com sangue de mulato, não tinha como não amar adrenalina. E, não tinha como ele não amar me ensinar tudo que ele sabia - de 5 meninas, fui a única que toda vida se interessou por motores. Para ele eu era o filho homem que nunca teve, por isso a minha mãe o culpava todos os dias (literalmente), por eu ser lésbica, mas isso é outra história. Mexer em motores e trocar as mudanças do carro sem que o mesmo soluçasse era como trocar de sapatilhas, eu simplesmente amava aquilo. Aos 18

III | Te Espero no Elevador

O círculo dourado para sempre será um impedimento, ainda que o deseje ferozmente. Meu coração não tem dono, o dele também não, mas há quem ache que o tem e parte de mim quer respeitar isso, mas a outra está indiferente. Quero sentir pena, quero sentir a consciência pesada, mas tudo que consigo é sentir saudades do que não vivemos e uma vontade incontrolável de ter mais alguns minutos a sós em algum elevador dessa vida. Faz uma semana que não o vejo, quero ligar e dizer que o quero sem reservas, quero tanto que a pulsação do meu membro vulcânico me faz um ser irracional - quero agarrá-lo com força, enfiar a minha mão naquele emaranhado de cachos negros, puxá-lo para perto de mim e permitir que me beije novamente sem pudor; por outro lado, quero que este sentimento desapareça e vire indiferença, mas e se o segredo daquelas quatro paredes for intenso, um autêntico caminho sem volta, o que faria eu com esta inocência já desflorada?  Enfim, desejos vem, desejos vão, mas casos m

II | Livres no Elevador

É suposto coisas maravilhosas acontecerem comigo, é assim que deve ser, é nisso que procuro acreditar todas as manhãs. Hoje finalmente recebi a chamada do Roberto, só não percebo por que motivo teve de esperar três dias para o fazer. Enfim, fiquei eufórica quando escutei sua voz, era como se de um velho amor se tratasse e percebi que tinha um sorriso ridículo no rosto. É isso que paixões fulminantes fazem quando existe vulnerabilidade? “Vim dar-te um abraço, podes descer?” – Não pensei duas vezes, desliguei a chamada e meti-me no elevador que me dava mais segurança. Quando as portas se abriram, lá estava ele, minha pele clara de caracóis negros. Seu olhar continuava intenso e eu sentia que já o conhecia, tem como eu me apaixonar menos? Porquê meu coração vagabundo não se limitou ao sossego? – “Tens uma tatuagem no pé. Eu fiz uma ontem, queres ver?” – Como era possível que ele ficasse tão à vontade comigo? Falamos por alguns minutos, coisas banais e pareceu uma eternidade

I | Presos no Elevador

O acaso é inesperado. O acaso as vezes é maravilhoso e um tanto intrigante. Enfim, não gosto de elevadores, mas o acaso levou-me até ele, o acaso neste caso, era o calor que se fazia sentir e a vontade zero de subir doze andares novamente. Na escuridão do corredor, mal percebi com quem faria aquela viagem, mas pouco importava, apenas queria chegar ao meu destino. Mas o acaso as vezes é tenebroso e aniquilador. Enfim, não gosto mesmo de elevadores, e hoje, o acaso fez com que ele parasse no terceiro andar. Entre o desespero e a necessidade de manter a calma, percorri as quatro paredes de metal a procura de um rosto que me parecesse familiar e então deparei-me com os caracóis que acabara de ignorar alguns minutos antes. Era ele, o os nossos olhares se cruzaram novamente e confesso que havia qualquer coisa nele, mas não me dava vontade de perceber de que realmente se tratava. Ele era um tanto intenso e curiosamente percebeu o meu medo, armou-se em engraçado e tentei ignorar as p

Grey Goose

Eu não queria encher meu mural de palavras tristes, não queria que o mundo me visse no meu momento mais escuro, na verdade não queria que ele percebesse que as felicidades que me tinha desejado estavam lentamente a quebrar o meu coração. Por isso, mais uma noite eu troco o meu pijama de listras azuis por uma calça jeans surrada, sapatilhas confortáveis e qualquer coisa que cubra os meus seios - nada de maquilhagem, hoje o único homem que eu quero que me veja, é o barman ; sim, pois é ele quem irá arrancar um pouco dessa nuvem negra que se instala em mim todas as madrugadas. - O de sempre misteriosa? - Claro doutor, 3 shots de água benta só para começar! Nossa relação é tão simples assim, ele entende o meu sofrimento e juntos procuramos um pouco de sossego para o meu coração, e é com Grey Goose  que o fazemos, embora eu saiba o quão fraca sou quando se trata de vodka.  Estou tão magra que ninguém realmente deveria olhar para mim, mas meu estilo é tão peculiar que só

Um dia teríamos tido o hoje

Ontem vi as fotos do teu casamento, por alguns minutos pensei que estivesse em um universo paralelo e que tudo não passava de um sonho: trajavas o fato que tínhamos escolhido, sequer te maçaste em escolher outra cor, até a lapela… tinhas mesmo de escolher flores do campo? Não pensei que depois de tanto tempo estas coisas ainda me fossem afectar, mas pelos vistos tu és e sempre serás o meu ponto fraco, o único e verdadeiro amor da minha vida ou será apenas loucura deste meu coração teimoso que não te quer deixar partir? Estavas tão bonito, tão elegante, tão feliz (para ela), fizeste-me lembrar de todos os planos que tínhamos feito, pena que escolheste concretizá-los com outro alguém. Engraçado como ela se parece comigo, pode ser paranoia, mas o vestido dela me parece familiar. Quero acreditar que é mera coincidência, que estas coisas acontecem e que não fizeste dela uma versão melhorada de mim porque nunca quiseste me perder. Várias vezes lutei com o meu coração e com o de

Barco de Papel

Enquanto caminhava em busca de um amor desconhecido, atraquei em vários portos e todos eles me pareceram seguros, mas depois percebi que navegava sempre em mares violentos: laços eram bruscamente quebrados, sentimentos eram perdidos em alto mar e eu me via obrigada a voltar para a minha solidão. Foi assim até eu te encontrar, tal como eu, perdido entre as ondas da incerteza do amanhã e com sede de sentir o balanço de uma nova louca paixão. Largamos nosso conceito de felicidade plena e criamos um novo, juntos navegamos rumo ao prometido felizes para sempre, cada vez mais envolvidos pela ansiedade de encontrar um lugar sossegado e esquecer que um dia ao mar pertencemos. Foram as melhores luas da minha vida, esquecendo todos os encalhentos enquanto buscavamos o melhor aconchego. Mas dizem por ai que tudo que é bom dura pouco e ate nisso escolhemos não acreditar. Nosso "felizes para sempre" foi bom até onde durou, até ao descontentamento,  até aos questionamentos sob

A Mulher Ideal | Confissões

Parece fácil ser mulher, não é? Acham que já nascemos formatadas, com tudo pré-definido: nascer, crescer, aprender desde pequena que o homem estará sempre acima de nós, que devemos respeitar sem questionamentos constantes, que a mulher é aquela que deve cuidar e manter o lar perfeito, ainda que por baixo das suas roupas carregue cicatrizes profundas. Vivemos e aprendemos que devemos nos instalar por trás deles e como sombras, servir de seu maior alicerce, mas não nos ensinam que o caminho a trilhar não é fácil e que devemos ser fortes até quando não mais nos aguentarmos em pé. Minha mãe me ensinou também que devemos baixar sempre a cabeça, a razão a eles pertence e mesmo quando não a tiverem, devemos aceitar e fingir demência – dentro de casa os meus diplomas não servem para nada, eu sou chefe do portão para fora. Sim, eu cresci nesse tipo de lar e assisti minha mãe ser espezinhada todos os dias, ainda que cumprisse com todos os requisitos de mulher ideal: obediente, dona de

A Ex-Exposa | Confissões

Casei-me com um problema, mas ele era o meu problema e eu não queria abrir mão disso por nada. Muitos julgaram-me por estar a ser inconsequente, era tão obvia a falta de respeito que ele tinha por mim, mas eu o amava tanto que quando me perguntavam por quê eu não o deixava, a resposta já vinha mesmo sem pensar:  "O que ele faz lá fora não me interessa, ele é meu quando está comigo, eu o amo". Pior de tudo é que eu mesma comecei a acreditar nisso, tanto que permaneci debaixo do mesmo tecto que o meu suposto homem maravilha por cinco anos. Ele me traia, ele sempre traiu e eu sempre perdoei, éramos felizes do nosso jeito. Enfim, tu melhor do que ninguém conheces a minha história, afinal de contas sempre estiveste ali, mesmo antes do casamento. Acompanhaste tudo: nossos melhores momentos, nossas brigas, nosso casamento, o nascimento da nossa filha, nosso divórcio e todo drama pós-divórcio. Tu estiveste lá, acesa como a chama que achava que existia na minha relação.

De Olhos Fechados

Oi, faz tempo que me tens perguntado como me sinto, mas eu não sei se realmente é um querer de coração ou pura curiosidade... vontade de saber qual é a parte do meu coração que está mais machucado para ter o que conversar quando fores te encontrar com as tuas amigas ou para poder me abraçar quando não mais conseguir me menter em pé. Mas tudo bem, hoje eu resolvi te falar e não quero nenhum abraço... quero um minuto de paz. A verdade é que eu vejo todo mundo feliz, menos eu. Não procuro respostas para as minhas inquietações, porque já as tenho. Há dias em que opto por acreditar que é coisa da minha cabeça, talvez nem todos estejam felizes do jeito que eu penso, mas isso também pouco importa, pois ainda assim eles continuam mais felizes do que eu. Me chamam ingrata, isto porque a vida tem me oferecido muitos minutos de alegria e eu só consigo olhar para o lado escuro. Sim, estou de olhos fechados e o que vocês aplaudem ai fora eu não vejo. Nem sei o que tenho feito, estou no modo a

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Visto o meu melhor fato, vou à luta mais uma vez, hoje quero contar-lhes que juntos podemos ser melhores, que não há motivos para deixar cair o outro como forma de ser reconhecido. Mas, quando abro a boca, noto que eles riem-se de mim, ninguém me ouve, ignoram a minha presença, matam mais a minha esperança e   me fazem insignificante. Mas é só mais um dia, mais uma tentativa frustrada de mudar o mundo. Mais uma derrota, quase desisto da ideia de salvar o pouco que resta da sociedade sã. É queda atrás de queda, e eles dizem que eu sou maluca, que as minhas palavras nunca farão sentido. É por isso que… Quando chego à casa eu estou bem cansada Os olhos estão vermelhos, eu estou bué drogada Não consigo lidar com a embriaguez do mundo Estou farta de gritar para este mundo surdo Eu não entendo como podemos ser tão cegos, deixar que a sociedade nos sufoque e permitir que nos humilhe. Não entendo como podemos ser tão vazios, deixar que eles nos mudem porque somos errados…

I N D E F I N I D O

Perdeu a cor, perdeu o horizonte. Era doce, agora ninguém sabe mais que sabor tem. Era vermelho, agora é indefinido, agora ninguém sabe mais que cor tem.  Eles dizem que ainda há esperança, mas eu só vejo um ponto final e não consigo me permitir enxergar além disso – é um jogo de emoções onde já me sinto perdedora sem sequer ter visto o placar... e foi tudo culpa da minha inconsequência, inconsistência e intransigência, tanto que hoje faço um dueto com a solidão. Fechei as portas para um possível “felizes para sempre” e já não sei como terminar esta história de amor sem poder imaginar como seria se eu tivesse feito tudo certo. Quero de novo bater na tua porta, dizer que sinto a tua falta, mas eu sei que não te posso ter de volta, por isso desejo-te alguém melhor do que eu. Estou tão vazia que até as palavras deixaram-me, é assim quando se chega ao fim? Tipo, perdemos o norte e o sul, as luzes se apagam e o que era tudo vira nada? Perdeu a cor, perdeu o horizonte. Era doce,

V A L É R I A

Meu nome é Valeria, tenho 30 anos, hoje afirmo veementemente que sou uma ex-prostituta e não tenho vergonha disso. Minha história não difere muito das outras, entrei nessa vida por opção e não por estar somente a passar por dificuldades. Sempre gostei de vida fácil, sei lá, desde criança que me puseram na cabeça que eu merecia um homem rico e que não precisava trabalhar – por conta da minha beleza e do meu corpo. Tudo começou quando me expus ao sexo pela primeira vez aos 15 anos, quando descobri que poderia ter tudo que quisesse, era só uma questão de dar uns minutinhos de prazer. Já perdi a conta de quantas vezes fui para cama com homens bem mais velhos, eles queriam-me a tempo inteiro e faziam de tudo por mim; tanto que hoje tenho carros, casas e sou feliz. Bem, feliz até ao momento que em que o candeeiro se apaga e fico à sós com a minha consciência, procurando o auxílio da ciência para tentar entender que força é essa que não me deixa entrar na abstinência de matar-me

Somos Todas Marias

“Esse corpo é da cidade, não há quem não entrou, não digo isso por maldade...” - Alo Maria, não desligues. Eu sei que já muito disse sobre ti e que não tens nenhum motivo para me dar ouvidos. Na verdade, até pensei que já tivesses bloqueado o meu número e esquecido totalmente do som da minha voz. Bem, não quero roubar muito do teu tempo, gostava imenso que escutasses o que tenho a dizer... Não, eu não quero ouvir. Houve tempos em que eu daria o mundo para receber uma chamada tua e realmente saber que o quão arrependido estás pelas coisas que disseste. Hoje eu sinto pena, pena de ti por teres dado ouvido as pessoas que quiseram dar o ombro amigo quando me disseste adeus. As mesmas pessoas que tentaram substituir-te quando por trás te diziam que eu era mentirosa e cínica. E justamente hoje, quando tudo dentro de mim já morreu, decides dizer que ainda me amas? Pensei que todas nós fossemos Marias. Honestamente, pensei que estivesses muito feliz com as pessoas que fizeram