Era para ser um dia normal, como
todos os outros (pelo menos nos últimos dias), em que eu saía do trabalho com
as minhas frustrações profissionais e pessoais, levava meu corpo até ao Backroom
para encher a cara, voltar para casa embriagada e simplesmente “falecer” na
cama de algum estranho. Era para ser… mas hoje dei por mim sentada no bar, a
acariciar um copo de cerveja que já não sabia a nada, há quase uma hora.
Perdi a conta de quantos homens sentaram
ao meu lado, sedentos por um dedo de conversa ou a oferecer sua miserável companhia
e mais um copo de cerveja. Outros eram estranhamente atrevidos e de certeza
cheios de dinheiro para gastar com a minha notável falta de interesse – sem gozo,
havia cinco coquetéis diferentes na minha cara, três shots de Tequila e honestamente,
nada daquilo me interessava… eu só queria um pouco de paz naquela turbulência,
afinal de contas é quinta-feira e isto está lotado, é completamente
estranho desejar sossego com esta aparência de carência.
Enfim, acho que em algum momento
me desliguei por completo, até ouvir uma voz familiar chamar por mim. Acredita,
naquele segundo, rezei dez mil Ave-Marias na esperança de que fosse coisa da
minha cabeça, paranóia mesmo, maluquice , mas não… era ele, o "único amor que
realmente amei em toda minha vida". Eu não precisei virar para saber que era
ele, fingi demência e não respondi. E adivinhem? Ele foi até ao bar, fechou os
meus olhos (como se eu precisasse descodificar sua presença), sujou os meus óculos e isso não se faz quando alguém carrega uma armadura na
cara – a marca de dedos é irritante.
Para a minha surpresa, ele sentou
e desculpou-se por ter sujado os meus óculos. Encarei-o pela primeira vez e
apenas fui capaz de esboçar um sorriso. Eu tinha imaginado este reencontro de
várias formas, idealizei mil e um diálogos que poderiam despertar novamente
seus sentimentos, mas naquele momento deu um branco e não me
importei. Perceber que a sua presença já não tinha o mesmo efeito foi o auge da
minha noite, tanto que conversamos fios de horas como se de bons e velhos
amigos se tratasse.
- Continuas com um sorriso
encantador – ele disse com aquele sorriso que costumava deixar-me sem chão. Fiquei tímida
claro (porque não sei receber elogios), mas meu corpo não reagiu e tudo isso me
fez chegar a uma conclusão:
Em todos esses anos que estivemos
separados, eu pensei que nunca voltaria a amar alguém do mesmo jeito (e não
amei mesmo, só meti os pés pelas mãos, mas tive alguns longos intervalos de felicidade-
ah, se tive!), pensei que não fosse superar e que na primeira oportunidade que tivesse,
faria de tudo para reconquistá-lo. Pois bem, estamos aqui, os dois, livres e um
pouco bêbados, e tudo que eu quero é ir para casa. Será que precisava levar
tanto tempo assim, para descobrir que eu tinha apenas uma ideia de amor por ele
e talvez devêssemos ter feito isto há mais tempo?
Não vou negar que seu cheiro ainda me traz boas lembranças, doces lembranças, quentes lembranças, mas mal consigo acreditar que não o quero de volta. Bem, a noite ainda é uma criança devassa, quem sabe onde isto irá terminar – não sou de ferro, acabou o sentimento, mas sabe-se lá que tipo de sobremesa nos vais reservar a madrugada…
Não vou negar que seu cheiro ainda me traz boas lembranças, doces lembranças, quentes lembranças, mas mal consigo acreditar que não o quero de volta. Bem, a noite ainda é uma criança devassa, quem sabe onde isto irá terminar – não sou de ferro, acabou o sentimento, mas sabe-se lá que tipo de sobremesa nos vais reservar a madrugada…
Au revoir, belles gens, au
revoir. Je ne sais pas où je vais finir ce soir!
Escrito por: Sheila Faiane
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