Avançar para o conteúdo principal

V A L É R I A



Meu nome é Valeria, tenho 30 anos, hoje afirmo veementemente que sou uma ex-prostituta e não tenho vergonha disso. Minha história não difere muito das outras, entrei nessa vida por opção e não por estar somente a passar por dificuldades. Sempre gostei de vida fácil, sei lá, desde criança que me puseram na cabeça que eu merecia um homem rico e que não precisava trabalhar – por conta da minha beleza e do meu corpo.

Tudo começou quando me expus ao sexo pela primeira vez aos 15 anos, quando descobri que poderia ter tudo que quisesse, era só uma questão de dar uns minutinhos de prazer. Já perdi a conta de quantas vezes fui para cama com homens bem mais velhos, eles queriam-me a tempo inteiro e faziam de tudo por mim; tanto que hoje tenho carros, casas e sou feliz. Bem, feliz até ao momento que em que o candeeiro se apaga e fico à sós com a minha consciência, procurando o auxílio da ciência para tentar entender que força é essa que não me deixa entrar na abstinência de matar-me aos poucos à custa de gemidos loucos.

Gemidos esses que no início me enchiam de satisfação e prazer, mas a medida que o tempo foi passando, eu fiquei mais dependente do sexo e perdi o total controlo da minha vida pois, não queria mais nada além de ter alguém para me satisfazer.

Em mais um desses "programinhas" que eu fazia só para passar o tempo e ganhar um dinheiro extra, uma vez deparei-me com um homem de cabelos grisalhos e alto, que de longe via-se que não estava ali pelo sexo, talvez procurasse uma companhia diferente para conversar. Mas mesmo que eu não quisesse, aquilo já estava na veia. Então, aproximei-me bem devagar para chamar a atenção e ele com a voz delicada convidou-me a sentar.

A prior não percebi o porquê de tanta delicadeza, mas sentei-me, ele olhou-me com ternura, sem malícia e pegou na minha mão. Lembro-me que ele olhou bem nos meus olhos e em lágrimas pediu-me perdão por se ter ausentado da minha vida tão cedo, sem dar-me a chance de conhecer-lhe e disse mais: “Filha, desculpa pelo que te fiz passar, olha só para a mulher que te tornaste hoje. É tudo culpa minha". Fiquei sem reacção, não sabia se chorava ou gritava, senti algo estranho dentro de mim que não consegui decifrar.

Talvez fosse um cliente antigo, de vidas passadas. Não era a primeira da família a exercer a profissão e devia estar a confundir-me. Somos todos confusos neste mundo de fuga permanente e sonhos que nunca se realizam. Fingi demência e baixei-lhe as calças... Todos vêm pelo prazer. O facto de sempre me escolherem, fazia com que eu me sentisse poderosa e com vontade de explorar mais. Eu sempre gostei de explorar coisas novas, por isso não me importava de andar com homens diferentes.

Infelizmente tive de dar uma pausa porque a família e a sociedade pressionavam demais. Nesse período, nesse novo começo, achei ter encontrado o homem da minha vida; com quem tive dois filhos, entretanto, ele não sabia do meu passado porque era novo no meu círculo. Ele tratou-me como rainha, só que eu preferi continuar nessa vida. É que isso preenche meu ego; saber que sou desejada e saber que tenho liberdade de fazer o que quero. O Mauro é um bom homem, não merece uma mulher como eu e duvido que ele queira continuar comigo se eu lhe contar. Me pergunto até se mereço ser aceite…

Ele dá-me de quase tudo, mas hoje vim aqui confessar que ainda sinto falta de alguns homens que já passaram pela minha vida. Quero muito acreditar que este mundo não é tão pequeno. São várias tentações, várias as oportunidades que tenho tido, mas não posso em momento algum me entregar ao vício, não posso deixar que o dinheiro e o sexo me tirem o homem que tanto me ama e me respeita. Por outro lado, não posso me iludir, de vez em quando sou capaz de dar uma escapadela só para relaxar, acho que ninguém merece ir para cama somente com um homem para o resto da vida. Ironicamente a carne que é a mais fraca, é a que fala mais alto e coloco dia após dia a felicidade que levei "anos" a construir, em risco.

Diariamente luto comigo mesma para atenuar essa tentação que conquista e perturba a minha paz interior. Por isso decidi falar com a Maria, uma velha amiga, que me indicou uma igreja e um pastor que supostamente opera milagres e podia me ajudar. Pensei no caso e segui o conselho dela, busquei pela salvação, hoje sou uma pessoa nova que pensa somente na família e busca sempre o melhor para eles, não me arrependo do meu passado, mas hoje não posso mais viver assim, Decidi formar uma família e vou seguir a vida assim, só que há alguns dias venho me perguntando se realmente sou feliz. Meu marido tem se distanciado um pouco, desconfio que está com outra. Me sinto um pouco sozinha e do nada me vêm umas lembranças da vida que eu levava na prostituição.

enfim, apesar de tudo, eu continuo a esforçar-me para ser fiel ao marido, aos meus filhos e a minha família. Acredito que agora que tomei essa decisão tenho de a levar adiante até onde puder. Pelo andar da carruagem duvido muito que consiga suportar essa vida monótona por mais de 2 anos, mas agora é só Deus no Comando.

Escrito por: Sheila Faiane, Nadia Machiana (@nadia_Nadir009), Kobito Jr. (@Dengalenga1), Thriller (ThatTatianaaa), Unfuckwithable (@Gerdio_), Nikki Mondlane (@NikkiMoondlane), Obi (@shelseapm), Jéssica Manhiça (Jess_manhica), Princepessa (@chudychicane), Leocádia (@Leocadeea), Babyfurious (@KathyGentivo04), Cucu (@cuttinii), Yugor Paul (@yugorpaul), VCheque (@ChequeValter), Archer XM (@_soma_44), Minion (@sheilahassangy), Nerd fora da escola (@candistodio), Melice Jr (@JuniorMelice) e Naty (@naathcedrim).


 Uma pequena brincadeira no Twitter, virou este conto maravilhoso. Agradeço a cada uma das pessoas que aceitaram o desafio e dou os meus parabéns. 

Comentários

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Memória e Reminiscência (lembrar e recordar)

Memórias, fragmentos de um tempo que se desfez com os ventos do passado, mas que permitiu-se deixar rastos para que de tudo um pouco eu carregasse no futuro. Memórias das trafulhices deixadas na infância, dos beijos mal beijados, dos “eu te amo” ditos em vão... memórias de um “eu”, que quisera eu ter ensinado que o mundo é mais fácil quando nos permitimos mais, quando amamos mais, quando queremos mais. Não existe um manual para vida. Talvez um Manuel! Então, eu me aconselharia a ouvir mais, deixar-me-ia envolver por cada palavra daqueles que em minha estúpida inocência um dia chamei intrometidos – os donos da razão, papá e mamã! Pois eles sabiam, eles sabiam e tudo que eu fiz foi fechar os meus ouvidos e fingir que era adulta o suficiente para não seguir seus mandamentos. Saudades, saudades do tempo em que a minha única preocupação era acordar e tentar ser feliz, ser sem noção sem me preocupar com o amanhã, pois o amanhã era apenas mais um dia. Mas ao mesmo tempo, ainda sinto

Para Sempre Submissa

- Eu sei que ele me ama. Eu sei que ele me ama. Tenho certeza que é amor”  –  Repito vezes sem conta enquanto ele se prepara para dar-me mais uma bofetada. Nossa relação é assim, uma mistura de amor e ódio, mas damo-nos super bem do nosso jeito doce e picante.  Hoje ele acordou bem disposto e manso.  Fizemos amor como já não fazíamos há muito tempo, foi como na nossa primeira vez, gostoso e intenso. Milagrosamente tivemos uma manhã tranquila, tomamos banho juntos e ele até levou-me ao trabalho.  Durante o dia fomos trocando mensagens carinhosas com doces dizeres e muitas outras coisas que eu não sabia que ele ainda era capaz de falar. Quando eu menos esperava, chegou na minha sala um enorme buquê de dálias vermelhas (depois de tantos anos ele ainda sabia que eu amava dálias), fiquei eufórica, não me contive e mandei logo uma mensagem a agradecer pelo gesto. 1, 2, 3 horas se passaram e ele não disse mais nada. Quando chegou a minha hora de ir para casa, achei melhor