O acaso é inesperado. O acaso as
vezes é maravilhoso e um tanto intrigante. Enfim, não gosto de elevadores, mas
o acaso levou-me até ele, o acaso neste caso, era o calor que se fazia sentir e
a vontade zero de subir doze andares novamente. Na escuridão do corredor, mal
percebi com quem faria aquela viagem, mas pouco importava, apenas queria chegar
ao meu destino.
Mas o acaso as vezes é tenebroso e
aniquilador. Enfim, não gosto mesmo de elevadores, e hoje, o acaso fez com que
ele parasse no terceiro andar. Entre o desespero e a necessidade de manter a
calma, percorri as quatro paredes de metal a procura de um rosto que me
parecesse familiar e então deparei-me com os caracóis que acabara de ignorar
alguns minutos antes. Era ele, o os nossos olhares se cruzaram novamente e
confesso que havia qualquer coisa nele, mas não me dava vontade de perceber de
que realmente se tratava. Ele era um tanto intenso e curiosamente percebeu o
meu medo, armou-se em engraçado e tentei ignorar as piadas que fazia, mas de
que valia manter a minha postura valente se não tínhamos sequer noção do tempo
que ficaríamos presos ali, juntos, lado a lado?
Foram os vinte minutos mais
longos da minha vida e eu precisava respirar, precisava manter a calma. Música!
Lembrei – é uma das únicas coisas que me traz a calma. Mal sabia eu que o acaso
traria igualmente um homem simpático, intrometido, mas que eventualmente me
faria desejar ficar mais uma hora ali, juntos, lado a lado, como se há muito já
nos conhecêssemos.
Entre um aperto do alarme e
outro, levei o lado esquerdo do auricular ao ouvido, para o meu espanto, ele
levou o outro. Quanta petulância! Nada disse, apenas permaneci quieta e atenta
aos movimentos, finalmente alguém havia percebido que tinha gente presa na
maldita caixa de metal. Por alguns segundos esqueci que não estávamos a sós e enquanto
cada um partilhava sua experiência, nossos olhares iam ficando cada vez mais
persistentes, ele chegava mais perto e eu conseguia sentir a sua fragrância –
gostei. Em minha mente fizemos amor com as nossas intenções vezes incontáveis,
era insano, mas era o que o nosso calor transmitia.
A inconsequente em mim queria que
o tempo parasse, que ninguém mais ali estivesse e que continuássemos a
partilhar aquela música que enviava mensagens sublimares no momento errado e ao
mesmo tempo tão certo. Mas então o elevador voltou a funcionar, fiquei deveras
aliviada, mas confesso que parte de mim não, era como se não importasse mais o
tempo e o desespero dos outros. Eu queria continuar ali, com ele, juntos, lado
a lado; mas quem controla o destino mesmo?
Na primeira paragem, pulamos
todos, ninguém confiava mais naquela caixa de metal e então pela primeira vez
ele realmente dirigiu-se a mim:
“Será que vou poder te ver de
novo?” – A ansiedade realmente tomou conta de mim naquele momento. Eu tinha
prometido há dias que diria sim para tudo que me acontecesse, então eu disse
que sim – sortudo! Agora não sei o que tudo isto significou, não sei se
realmente continuo a gostar do acaso, pois tenho o meu mundo as voltas e ele
cheira-me a confusão.
Enfim, ele pegou na minha mão e
senti que talvez não devesse me importar com mais nada. – “Prazer em
conhecer-te, eu sou o Roberto. Espero poder ver-te novamente.” – Galanteador,
com um beijo electrizante em minha mão, despediu-se e esperou que eu fosse
embora. Agora me encontro aqui, a pensar neste episódio e no que virá depois,
se ele realmente vai me ligar e se eu quero que ele realmente me ligue.
Escrito por: Sheila Faiane
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