Não, não… espera!
Nem tudo é o que parece ser, e tem aquele velho ditado
que diz: “Nem tudo que brilha é ouro”. Mas digo-te já, isto é puro Ouro,
autêntica magia negra e o nome dela é Teresinha. Ela é uma nyanga experiente,
mas não trabalha com pedras, não usa bacias, não usa espelhos, somente faz o
bom uso dos seus poderes de sedução. Com seu gingando e ousadia mostrou-me que
não precisava de uma cabana para prever o nosso futuro, no nosso primeiro beijo
eu já sabia que tínhamos sido feitos um para o outro.
Até agora continuo sem perceber como ela foi capaz de
deixar-se apaixonar por este puto, por isso limito-me a fazer jus a essa
herança que me foi deixada pelos seus antepassados. Ela é uma miscelânea de
prazer, loucura e aventuras. Lembro-me que na nossa primeira madrugada,
exatamente as 3 da manhã, ouvi um som que parecia um batuque, pensei que ela
estivesse a chamar algum espírito para abençoar a nossa relação, mas não, ao
mesmo tempo eu sentia calafrios e muita excitação. Era ela a fazer a sua
maravilhosa performance na minha veia mais manhosa. Inacreditável!
Quando acordei até tive medo de perceber que tivesse
estado a viver uma ilusão, mas no momento em que eu me preparava
psicologicamente para cair na real, senti sua mão quente acariciar o meu corpo.
Nunca me senti tão aliviado em toda a minha vida. Aquela tinha sido a melhor noite da minha vida, sem
exageros, a melhor mesmo.
Mas, tal como o resto do mundo, enquanto consulto os
búzios agradeço aos Bhavas por ela não ser tão perfeita. Ela é estranhamente
obstinada pela contrariedade e acho que é isso que me deixa com mais vontade de
tê-la só para mim. Teresinha é do tipo que inconscientemente esconde sua
essência até nas coisas mais simples por achar que é mais fácil viver nas
sombras da mulher dos seus sonhos. Aprendeu a encenar tão bem que acabou
esquecendo a diferença entre o real e a ficção pois, desde cedo fora obrigada a
fazer de conta que a sua vida era um baile funk e que o seu coração sempre
estivera preenchido de amor e canela. Ela é na verdade um ser frio, livre, uma
incógnita sem responsabilidades, sem a obrigação de definir objetivos para que
a sua vida faça sentido e a rainha do desapego.
Confesso que já tive várias mulheres e todas elas
desencadearam o medo de amar novamente, mas eu sei que com ela não é diferente,
que apesar das nossas diferenças ela ama e deseja-me intensamente. Contudo, ao
invés de chocolate branco ela sempre opta pelo chocolate amargo, por achar que
é mais simples agarrar-se ao convencional. Para ela, a ideia de ter um homem
perfeito do seu lado parece ridícula, um conto de fadas onde a princesa acaba
magoada e desesperada por um novo amor. Então ela nunca permite que eu alcance
seu coração, todas as manhãs ela levanta-se e desaparece da minha vida
carregando o seu tinholo, mas eu nunca tenho medo de a perder, fomos unidos
pela força dos espíritos vaNguni… chikuembo vaNguni.
Escrito por: Sheila Faiane
Notas:
- Tinhlolo – conjunto de ossos, búzios, carapaças de tartaruga, pedras, moedas, invólucros de sementes e vários outros objectos acrescentados individualmente por cada nyanga. (fonte: http://www.buala.org/pt/a-ler/ser-curandeiro-em-mocambique-uma-vocacao-imposta)
- Espírito vaNguni – evidencia a capacidade de diagnosticar e circunscrever o mal de modo a poder neutraliza-lo e prescrever as formas do seu tratamento; e Chicuembo – espírito dos antepassados (fonte: https://updoc.site/download/chicuembo_pdf)
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