Um dia acordei e percebi que um dos meus maiores sonhos
estava a concretizar-se, eu ia ser mãe. Minha alegria não coube no coração,
pois já há muito ansiava por aquele momento.
Sabia que era cedo demais para comemorar, mas descobrir a
bênção aos 4 meses e 1 semana não tinha preço, tendo em conta que o destino não
tinha sido generoso comigo nos últimos 3 anos… foram 3 abortos espontâneos e 3
motivos que quase fizeram com que eu perdesse a fé. Queria tanto partilhar
o momento com o homem da minha vida, mas já há 2 meses que ele tinha desistido
de mim e do nosso amor já arrefecido pelo tempo. O sentimento de abandono
conseguia sentar por cima da alegria que eu sentia e deixava apenas espaço para
suspiros dolorosos que me acompanharam pelo restante período de gestação.
Incrível que a minha barriga só ficou notável aos 7 meses,
dei Graças a Deus por não ter de inventar história de encantar. Quando as
pessoas perceberam o meu estado tentaram aproximar-se de todas as maneiras
imagináveis, mas eu não queria a atenção de ninguém enquanto vivia aquele
paraíso com gosto de inferno, então isolei-me ainda mais. Nessa altura Paulo já sabia que seria pai, conquanto,
desde que recebera a notícia, a única coisa que tive dele foi silêncio e desdém.
Ele conseguiu acabar com tudo de bom que havia em mim e
levou junto o resto de amor que ainda tinha guardado no peito e bem… Para a
nossa filha restou nada!
O anjo que eu carregava no meu ventre tornou-se no meu
pior demónio, minha maior desgraça e só Deus sabe o quanto lutei comigo para que
minha insanidade não acabasse connosco. Chorei, chorei todas as noites e ainda
choro, culpei o mundo e a minha Lohanna
por fazerem de mim um monstro e até hoje fico triste só de imaginar que quase
nos perdi para as minhas fraquezas. Quando chegou o grande dia eu não
conseguia sequer me ver ao espelho, tinha engordado 25 kg, sentia-me
demasiadamente pesada, gorda, feia e a aquela dor… Aquela dor parecia o fim do
mundo e eu ouvia-me gritar para as enfermeiras:
- Tirem
essa merda de mim, tirem!
Só de lembrar caem-me lágrimas e agradeço a Deus por ter
acreditado em mim quando eu não pude. Lohanna
chegou no meio de uma tempestade de sentimentos, lembro que quando a enfermeira
a colocou nos meus braços eu disse que não merecia a criança, quando na verdade
era ela quem não merceia a mãe que a estava a rejeitar. Eu não queria cuidar
dela, foi uma guerra e eu quase venci, pois quanto mais ela chorava por mim, mais
gelava o meu coração e eu sentia repulsa.
Minha mãe e o resto da família julgaram que fosse a famosa
fase “baby
blues” (melancolia pós-parto),
mas aquilo arrastou-se por mais de 6 meses. Ninguém sabia o que fazer comigo,
eu estava sempre triste, minha autoestima rastejava comigo no chão, sentia que
era muita responsabilidade só para mim quando ela tinha um pai, não tinha
paciência, passava o tempo todo a dormir e tinha muitas dificuldades para
amamentar.
Lohanna chorava de fome, nervosismo, tristeza por falta de
atenção, eu não sabia como cuidar dela e não tinha vontade. Minha mãe começou a
notar que eu arranjava sempre uma maneira de não estar perto da minha “tão
estranha” filha, mas o auge foi quando desapareci de casa por 5 dias. Minha família
ficou desesperada e quando me viram regressar derramando felicidade decidiram
que era hora de levar-me ao psiquiatra. Ameacei ir embora novamente ou me matar
se o fizessem, então minha mãe não viu outra solução senão implorar que Paulo falasse comigo.
Paulo procurou-me e eu fiquei criança quando o vi, quis
beijá-lo e tomá-lo de volta para mim, mas ele disse que antes de qualquer coisa
devíamos conversar. Foram fios de horas de conversa, até que finalmente aceitei
ajuda médica e diagnosticaram-me Depressão
Pós-Parto (DPP).
Já passam quase 6 meses desde que iniciei o tratamento e
sinto que muito mudou. Tenho feito várias sessões de terapia, felizmente já
parei com os antidepressivos e tenho o apoio incondicional da minha família,
mas estaria a enganar-me se dissesse que já estou completamente curada.
Finalmente estou a descobrir a doçura da maternidade, que
ser mãe pode ser a experiência mais maravilhosa do mundo e ao mesmo tempo
aterrorizante. Só sei que quando menos esperei, Lohanna tornou-se meu porto seguro, o amor que hoje sinto por ela é
quase quimérico e a cada dia que passa vou descobrindo que não sou uma mãe má.
Mas ainda espero um dia perdoar-me por ter sido tão inconsequente.
Não sejas como eu, procure acompanhamento profissional
quanto antes, pois existe tratamento e vários grupos de mulheres dispostas a
ajudar. Aprenda também a aceitar o apoio da sua família e amigos, porque infelizmente
não existe tratamento preventivo para a DPP,
mas o primeiro passo é admitir o
problema e procurar ajuda.
Nota: Esta história não é verídica, mas já foi e ainda é a
realidade de muitas mulheres. Muitas, pelo desconhecimento ou negação, não procuram
ajuda e cometem loucuras. Portanto, se estás a passar por isto ou conheces
alguém que esteja nesta situação, procure ajuda antes que seja tarde.
Queridas mamãs e futuras mamãs, vou deixar-vos ficar
também alguns links e espero que ajudem:
·
Cenas
da Maternidade: https://m.facebook.com/groups/1548189105425938
·
Pedacinho
de Mãe: https://m.facebook.com/groups/492833800823187
·
Uma mãe
amorosa: https://m.facebook.com/groups/910386402439882
·
Mães
amigas: https://m.facebook.com/groups/186114634755487
Escrito por: Sheila Faiane
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