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II | Livres no Elevador


É suposto coisas maravilhosas acontecerem comigo, é assim que deve ser, é nisso que procuro acreditar todas as manhãs. Hoje finalmente recebi a chamada do Roberto, só não percebo por que motivo teve de esperar três dias para o fazer. Enfim, fiquei eufórica quando escutei sua voz, era como se de um velho amor se tratasse e percebi que tinha um sorriso ridículo no rosto. É isso que paixões fulminantes fazem quando existe vulnerabilidade?

“Vim dar-te um abraço, podes descer?” – Não pensei duas vezes, desliguei a chamada e meti-me no elevador que me dava mais segurança. Quando as portas se abriram, lá estava ele, minha pele clara de caracóis negros. Seu olhar continuava intenso e eu sentia que já o conhecia, tem como eu me apaixonar menos? Porquê meu coração vagabundo não se limitou ao sossego? – “Tens uma tatuagem no pé. Eu fiz uma ontem, queres ver?” – Como era possível que ele ficasse tão à vontade comigo?

Falamos por alguns minutos, coisas banais e pareceu uma eternidade. Novamente, eu queria que o tempo parasse e que ele continuasse a olhar para mim. Fazia-me sentir insanamente desejada. – “Vamos subir?” – apenas acenei e indiquei o único elevador que não nos traria problemas, ainda que eu quisesse ficar presa outra vez, por infinitas horas. E, como se ele tivesse escutado os meus pensamentos, disse: “Espero que pare, hoje estamos só nós dois.”

Seu olhar estava cheio de malícia e eu queria poder fazer muito mais do que falar. Chegamos ao meu destino, mas a distração era tão boa, que continuamos até ao último andar do edifício. – “Quero mesmo dar-te um abraço!” – Eu disse tudo bem e o abracei. Aquele cheiro, aquele calor, quase derreti, quase me entreguei àquele erro bom. Enquanto o elevador descia, nós ficamos ali, juntos, frente a frente e finalmente nos beijamos. Em silêncio partilhamos a música dos nossos corações, era desejo, era reciprocidade, era como se aquele beijo já a muito me pertencesse. Gostei, viajei e quis mais, até notar aquele maldito círculo dourado que colocava um ponto final nesta novela.

É suposto coisas maravilhosas acontecerem comigo, é assim que deve ser, é nisso que procuro acreditar todas as manhãs, mas agora não sei mais como olhar para isto. Tenho o cheiro dele em mim, não consigo desligar e ainda tenho o coração aos pulos. Quero vê-lo novamente, mas não posso.

Enquanto as portas do elevador fechavam, vi meu futuro ex-amor ir embora com um pedaço do meu coração. Com um sorriso e um olhar de quero mais, acenei e fechei a página.

Escrito por: Sheila Faiane




Comentários

  1. Gostei muito de ler o texto. É interessante e devia pensar em lancar uma obra, se é que ainda não lançou. A tua arte pode contribuir bastante para a nossa cultura.
    Abraços e muito sucesso ✨👏👏👏👏

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