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Amor: O outro lado do descontentamento


Ele ordenou que eu despisse, disse-me que para ele era mais interessante ver uma mulher nua e que isso o deixava demasiado excitado. Fiquei entorpecida, constrangida por alguns míseros segundos, mas tratava-se do meu futuro marido. O que perderia eu por mostrá-lo a minha tela virgem?!

Comecei a desabotoar os botões da minha camisa, sempre com o olhar fixo ao dele. Notei que seus olhos começavam a  escurecer e seu toque ia ficando cada vez mais quente enquanto ele passava a mão pelo meu peito já descoberto, criando ondas de pura excitação. Quando eu já começava a ceder a sua magia, na primeira tentativa de gemer, horrorizado ele ordenou que eu parasse e perguntou o que eu tencionava fazer.
Sem entender sua atitude cessei minhas atividades de imediato e questionei:

- Então não querias que eu despisse?! - Ele riu-se, gargalhou e eu senti-me estúpida. Então ele disse que eu não o tinha percebido. Ok!

Novamente ordenou que eu despisse e eu fiquei imóvel, pois não sabia mais o que fazer. Após um minuto de silêncio e um longo suspiro ele disse-me que queria apenas ver a minha alma nua, minha mente excitada e o conteúdo orgástico que não permito que ele tenha acesso. Na verdade ele só queria perceber o que ia na minha cabeça de tão quieta que eu estive a manhã toda que tiramos para fazer nada deitados em nossa cama. 

- Diz-me o que tanto te aflige Maria? Dispa essa alma e conversa comigo.
- Eu quero sexo. 
- O quê?!
- Não, na verdade eu quero fazer amor com os teus pensamentos. Será que ainda me amas?

Mais um longo suspiro, mais um minuto de silêncio, mais um dia na incerteza desse amor que partilha a mesma cama, mas não partilha o mesmo coração. E ele não diz mais nada, apenas abraça-me e eu sinto a distância aumentar, tenho vontade de beijá-lo e dizer que o amo de forma inconsequente, mas apenas retribuo o abraço e mergulhamos novamente em nossa maré de conformismo e falta de coragem para dizer adeus. 

Naquele meio minuto, vidas se passaram e ainda assim, nossas almas encontram-se em todas esquinas dando a sensação de um deja vú. Devia ser um castigo de Deus por negarmos a existência de amores a segunda vista, pois o primeiro nós deixamos morrer quando o cupido acabou suas flechas e a paixão arrumou a mala sem dar-se ao luxo de tentar uma última vez!

- Achas o amor um sentimento justo Maria?!
- Não percebo o que dizes!
- Sei-lá, só acho que o tempo será generoso com os nossos sentimentos e..
- A sério?! Queres mesmo conversar as 4 da manhã? Valha-me Deus!

Escrito por: Sheila Faiane

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