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Negra Dourada

By Sheila Faiane

Reflete o meu reflexo, é de um castanho claro fugindo para tons mais escuros de tanto procurar beleza pura na imundície. Olhos pretos tristes, lábios de um rosa perdido entre o castanho escuro de tanto recorrer ao cachimbo da paz atrás de sossego.. cabelo é de um preto pálido que dá vontade de arrancar pela raíz.

Espelho meu, espelho meu, existe alguém nesse "eu"?

Reflete o meu reflexo, ombros caídos, mãos pretas de tanto colocar a mão no fogo por paixões temporárias, 365 marcas de esperanças mortas nesse corpo.. pés desistentes, quase dormentes de tanto correr atrás de uma liberdade prometida por um homem morto. 

Espelho meu, espelho meu, existe alguém nesse "eu"?

Reflete o meu reflexo, desejo intenso de entender de uma vez por todas que o mundo é feito de escolhas, que essa felicidade plena depende somente de mim e o que vier de fora é bónus. Chega de borrar a maquiagem a cada tropeço e deslizar em cascatas de lamúrias. Hoje é dia de sorrisos, amanhã também e depois quem sabe.. talvez devesse aproveitar cada segundo dessa avalanche de esperança com cheiro de prosperidade. Vou mergulhar​ nesse mar e deixar-me guiar pela estupidez do meu coração, ser irracional​ pelo menos uma vez, libertar-me e ganhar coragem de ser idiota.

Espelho meu, espelho meu, existe alguém nesse "eu"?

Reflete o meu reflexo, poço de emoções contraditórias, curvas singelas e perigosas. Capa perfeita de um livro de fábulas, dicionário feminino indecifrável, mulher! Se és tudo isso porque te escondes no negro da noite? 
Despe essa covardia negra dourada, deixa o mundo se incendiar com os encantos.. deixa. 

Reflete o meu reflexo!

Sheila Faiane

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