Avançar para o conteúdo principal

Quando o amor acaba


Conheci o amor, entreguei-te meu coração e permiti que declamasses em meu ouvido o mais belo dos poemas de amor. Trocamos carícias à sombra da sociedade, vimos nossas vidas tomarem um rumo inesperado e ainda assim permanecemos juntos no mesmo batel. Foram anos de felicidade plena, magia branca e mil e uma razões de viver. 

Prometeste-me que o sol de junho para sempre iria brilhar, ajoelhaste, pediste que eu fechasse os olhos para os teus defeitos e eu aceitei. Permitiste-me guardar no cofre da minha mente, datas memoráveis e sentimentos sui generis. Inúmeras vezes pareceu-me utópico, pois mesmo antes de cumprirmos com o nosso plano inicial, demos uma volta de avanço e no ventre carreguei a nossa primeira bênção com todo o amor do mundo. 

Enfrentamos dinossauros e quimeras, vimos tudo ao nosso redor incendiar. Vimos sonhos morrerem e outros se materializarem, mas entre vendavais e intervalos de tranquilidade colocaste um anel no meu dedo e juramos que seríamos felizes para sempre. Da nossa incerteza surgiram outros rebentos, a vida sorriu-nos do mesmo jeito que magoou e aquele que eu pensei que fosse ser nosso vidro blindado, quebrou. Porquê ninguém me avisou que o "para sempre" teria anos contados?

Ferida pelos estilhaços, deixei morrer meu orgulho por aquele que um dia tinha sido o nosso sonho. Tenho feito das tripas coração para que pelo menos um dos pilares não ceda, mas estou cansada eu confesso. Quem és tu do outro lado da cama, quem és tu que viveu uma vida ao meu lado e hoje banha-me de invisibilidade? Essa dor não é transponível, mas queria eu poder fazer-te entender o quão cortante é a ideia de ter que dizer adeus ao que já fomos, quando no canto mais escuro do meu coração se esconde um pingo doce de esperança. 

Eras tu nas minhas histórias de encantar, eras tu o meu príncipe de cavalo branco, és tu o lado obscuro do amor. Hoje tudo que me resta é um monte de cabelos grisalhos, uma história para contar e mágoa no coração. Lutar pelo tempo não faz mais sentido e me sinto perdida nesta viagem, tenho os meus sentidos dispersos e preciso que me respondas: "Para onde se vai quando o amor acaba"?

Escrito por: Sheila Faiane 

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Memória e Reminiscência (lembrar e recordar)

Memórias, fragmentos de um tempo que se desfez com os ventos do passado, mas que permitiu-se deixar rastos para que de tudo um pouco eu carregasse no futuro. Memórias das trafulhices deixadas na infância, dos beijos mal beijados, dos “eu te amo” ditos em vão... memórias de um “eu”, que quisera eu ter ensinado que o mundo é mais fácil quando nos permitimos mais, quando amamos mais, quando queremos mais. Não existe um manual para vida. Talvez um Manuel! Então, eu me aconselharia a ouvir mais, deixar-me-ia envolver por cada palavra daqueles que em minha estúpida inocência um dia chamei intrometidos – os donos da razão, papá e mamã! Pois eles sabiam, eles sabiam e tudo que eu fiz foi fechar os meus ouvidos e fingir que era adulta o suficiente para não seguir seus mandamentos. Saudades, saudades do tempo em que a minha única preocupação era acordar e tentar ser feliz, ser sem noção sem me preocupar com o amanhã, pois o amanhã era apenas mais um dia. Mas ao mesmo tempo, ainda sinto...

V A L É R I A

Meu nome é Valeria, tenho 30 anos, hoje afirmo veementemente que sou uma ex-prostituta e não tenho vergonha disso. Minha história não difere muito das outras, entrei nessa vida por opção e não por estar somente a passar por dificuldades. Sempre gostei de vida fácil, sei lá, desde criança que me puseram na cabeça que eu merecia um homem rico e que não precisava trabalhar – por conta da minha beleza e do meu corpo. Tudo começou quando me expus ao sexo pela primeira vez aos 15 anos, quando descobri que poderia ter tudo que quisesse, era só uma questão de dar uns minutinhos de prazer. Já perdi a conta de quantas vezes fui para cama com homens bem mais velhos, eles queriam-me a tempo inteiro e faziam de tudo por mim; tanto que hoje tenho carros, casas e sou feliz. Bem, feliz até ao momento que em que o candeeiro se apaga e fico à sós com a minha consciência, procurando o auxílio da ciência para tentar entender que força é essa que não me deixa entrar na abstinência de matar-me ...

Para Sempre Submissa

- Eu sei que ele me ama. Eu sei que ele me ama. Tenho certeza que é amor”  –  Repito vezes sem conta enquanto ele se prepara para dar-me mais uma bofetada. Nossa relação é assim, uma mistura de amor e ódio, mas damo-nos super bem do nosso jeito doce e picante.  Hoje ele acordou bem disposto e manso.  Fizemos amor como já não fazíamos há muito tempo, foi como na nossa primeira vez, gostoso e intenso. Milagrosamente tivemos uma manhã tranquila, tomamos banho juntos e ele até levou-me ao trabalho.  Durante o dia fomos trocando mensagens carinhosas com doces dizeres e muitas outras coisas que eu não sabia que ele ainda era capaz de falar. Quando eu menos esperava, chegou na minha sala um enorme buquê de dálias vermelhas (depois de tantos anos ele ainda sabia que eu amava dálias), fiquei eufórica, não me contive e mandei logo uma mensagem a agradecer pelo gesto. 1, 2, 3 horas se passaram e ele não disse mais nada. Quando chegou a minha hora de ir ...