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Quilombo


Enquanto procuro me acostumar ao meu novo recanto, memórias invadem-me e
por um mísero segundo lembro que tenho de voltar para casa.

Minha alma conhece o caminho, porém meu coração e
meus instintos perderam as coordenadas.

Mas aqui é calmo e ninguém se vê, a escuridão é perfeita e
contentamo-nos com a brisa carregada de saudade de quem já fomos.

Parece triste, não é?

Mas não sei por onde começar, perdi as palavras e
permiti que o tempo levasse também o meu fervor.

Não sei onde estou, não conheço ninguém neste lugar e
mesmo assim é de um conforto assustador.

Aqui é calmo e ninguém se fala, o silêncio é perfeito e
contentamo-nos com a brisa carregada de emoções desconhecidas.

Acho que não sei mais escrever, minhas palavras já não se casam,
sinto que morre a minha vida e só eles se importam.

Tenho muito para dizer, minha mente explode e espalha metades de mim para o mundo.

Elas alimentam-se de nada, movem-se e suicidam-se, então perco-me de vez.

Eu gosto daqui, aqui é calmo e ninguém ouve, mas entoamos todos a mesma canção: 
É a morte do narrador, vocês sabem como é...

Enfim, lá fora em um mundo um pouco mais distante,
vejo o filme da minha vida rolar em câmara lenta.

Ouço-os dizer bem de mim, mas não gosto daquele lugar,
lá eles só enaltecem aqueles que já se foram e somente quando as cortinas fecharem,
irão aplaudir àquilo que um dia fui.

Escrito por: Sheila Faiane


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