Avançar para o conteúdo principal

Relatos da Quarentena | A solteira

Estamos a uma quarentena de distância e minha mente grita calor, suor e sexo. Conto até três desesperadamente, como se fosse diminuir a minha ânsia. Procuro os melhores programas de TV para me distrair, para fazer meu corpo entender que apenas precisamos ficar hidratados, tomar Vitamina C e continuar isolados. Há muito tumulto lá fora, mas o barulho aqui dentro da minha cabeça parece cada vez mais forte. Não sei se choro, se finjo loucura, se atravesso o perigo para te encontrar ou se tomo mais um daqueles comprimidos para dormir e talvez consiga desligar os meus pensamentos.

Estás por todo lado e mesmo sem te ter aqui sinto teu cheiro, teu toque e baixinho oiço a tua voz dizer o quanto me desejas. Será que já começo a delirar? Aos poucos tua imagem na minha mente desvanece e o desejo torna-se um vírus que apesar de dominar o meu corpo, enfrenta uma batalha para aqui permanecer. Mas graças ao tempo, acho que me estou a tornar imune a ti. Portanto, fica desse lado, cuida-te e guarda-te, reza um terço porque a "Ave Maria" bateu as asas com outro Santo e eu não me responsabilizo pelos meus actos pós-quarentena.

Por enquanto, só peço que pares de me mandar fotos tentadoras, para de dizer que poderias melhorar o meu dia com aquele beijo que já me deixa despida. Neste momento não posso desviar a minha atenção para desejos carnais. Consegues ser menos intenso, menos desejável e ainda assim não deixar de ser presente? Sinto que estou a enlouquecer e ainda nos falta uma eternidade para que possamos novamente perder a cabeça. Mas o problema é que eu já perdi a cabeça e não sei se percebes inglês mas, do you wanna be my quarantine?

Actually I would like to be your Mary Jane, and you can be my Spiderman, climb me e tirar minhas teias... And trust me, we could be quarantined together if we were together, if you know what I mean. Oh wait... You don't want that, you want "no strings attached" and quarantine is actually for people who are all in! So instead of sending me pictures, picture your life in a couple of years without me, meu corpo no teu espelho e os planos que não queres fazer comigo.

Escrito por: Sheila Faiane e Jéssica Manhiça

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Memória e Reminiscência (lembrar e recordar)

Memórias, fragmentos de um tempo que se desfez com os ventos do passado, mas que permitiu-se deixar rastos para que de tudo um pouco eu carregasse no futuro. Memórias das trafulhices deixadas na infância, dos beijos mal beijados, dos “eu te amo” ditos em vão... memórias de um “eu”, que quisera eu ter ensinado que o mundo é mais fácil quando nos permitimos mais, quando amamos mais, quando queremos mais. Não existe um manual para vida. Talvez um Manuel! Então, eu me aconselharia a ouvir mais, deixar-me-ia envolver por cada palavra daqueles que em minha estúpida inocência um dia chamei intrometidos – os donos da razão, papá e mamã! Pois eles sabiam, eles sabiam e tudo que eu fiz foi fechar os meus ouvidos e fingir que era adulta o suficiente para não seguir seus mandamentos. Saudades, saudades do tempo em que a minha única preocupação era acordar e tentar ser feliz, ser sem noção sem me preocupar com o amanhã, pois o amanhã era apenas mais um dia. Mas ao mesmo tempo, ainda sinto...

V A L É R I A

Meu nome é Valeria, tenho 30 anos, hoje afirmo veementemente que sou uma ex-prostituta e não tenho vergonha disso. Minha história não difere muito das outras, entrei nessa vida por opção e não por estar somente a passar por dificuldades. Sempre gostei de vida fácil, sei lá, desde criança que me puseram na cabeça que eu merecia um homem rico e que não precisava trabalhar – por conta da minha beleza e do meu corpo. Tudo começou quando me expus ao sexo pela primeira vez aos 15 anos, quando descobri que poderia ter tudo que quisesse, era só uma questão de dar uns minutinhos de prazer. Já perdi a conta de quantas vezes fui para cama com homens bem mais velhos, eles queriam-me a tempo inteiro e faziam de tudo por mim; tanto que hoje tenho carros, casas e sou feliz. Bem, feliz até ao momento que em que o candeeiro se apaga e fico à sós com a minha consciência, procurando o auxílio da ciência para tentar entender que força é essa que não me deixa entrar na abstinência de matar-me ...

Para Sempre Submissa

- Eu sei que ele me ama. Eu sei que ele me ama. Tenho certeza que é amor”  –  Repito vezes sem conta enquanto ele se prepara para dar-me mais uma bofetada. Nossa relação é assim, uma mistura de amor e ódio, mas damo-nos super bem do nosso jeito doce e picante.  Hoje ele acordou bem disposto e manso.  Fizemos amor como já não fazíamos há muito tempo, foi como na nossa primeira vez, gostoso e intenso. Milagrosamente tivemos uma manhã tranquila, tomamos banho juntos e ele até levou-me ao trabalho.  Durante o dia fomos trocando mensagens carinhosas com doces dizeres e muitas outras coisas que eu não sabia que ele ainda era capaz de falar. Quando eu menos esperava, chegou na minha sala um enorme buquê de dálias vermelhas (depois de tantos anos ele ainda sabia que eu amava dálias), fiquei eufórica, não me contive e mandei logo uma mensagem a agradecer pelo gesto. 1, 2, 3 horas se passaram e ele não disse mais nada. Quando chegou a minha hora de ir ...