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Deixa contar por que estou solteira


Por muito tempo pensei que não fosse suportar a ideia de não ter alguém. Alguém que fosse cuidar de mim, preocupar-se e amar de forma genuína. A ideia era maravilhosa, a vontade era imensa, mas na vida real era um autêntico conto de fadas - ficaria apenas na ilusão. Não procurava perfeição e nem alguém que apenas ocupasse o meu tempo, só acho que todo mundo merece intensidade e viver uma verdade.

No início achava que eu era complicada demais, que aos meus padrões estavam acima da média e que se calhar era melhor diminuí-los para nao afugentar quem tentasse se aproximar. Se essa foi uma decisão fantástica? Não, não foi, mas não me arrependo de a ter tomado. Dessa estupidez aprendi que não mereço pouco pelo facto de desejar tanto - aprendi que o amor não deve vir pela metade, por insistência ou até nascer do desespero. Não é uma questão de oportunidade ou tentativa, tem de haver o querer fazer com que dê certo!

Depois mentalizei  que talvez fosse melhor deixar-me ficar mais a vontade, menos fechada e libertar minha mente da ideia de que ninguém me vê de verdade. Então eu o fiz, eu me permiti, na ingenuidade me permiti demais e até pensei ter encontrado o meu porto seguro... várias vezes. E nessas várias vezes, fechei os olhos e agradeci por me terem sido ouvidas as presses, depois percebi que não eram bênçãos, era eu a ser teimosa e a não entender que devia esperar um pouco mais.

Perceber que a minha intensidade é assustadora levou seu tempo e nesse tempo que me pareceu uma eternidade, na inocência blindei meu coração, aprendi a matemática do amor e ciência do desapego. Não foi um acto de desistência, pois não enterrei as esperanças, apenas deixei de fazer esforço e fiquei quieta. Na minha quietude, houve quem tivesse despertado sentimentos interessantes, mas o problema é que o nível de comprometimento era de longe igual e eu sou inteira demais para aceitar alguém com mais incertezas do que eu.

Achei interessante tudo que se passou desde os "Vamos tentar", "Por enquanto ninguém pode saber", até aos  "Gosto de ti, mas não estou pronto". Confesso que em alguns momentos questionei minha sanidade ou então se o minha cara expressava solidão e infelicidade, dei-me muito por reflectir. Foi aí que aprendi a dizer não à indecisão alheia, às coisas pequenas, às más intenções camufladas de amor a primeira vista que passavam depois do prazer e àquele amor eterno cheio de promessas que jamais poderão ser cumpridas.

Houve quem realmente carregasse sentimentos verdadeiros, mas não me afecta ouvir que posso estar a cometer um erro irreversível por não tomar em meus braços quem bem me quer. A única verdade é que ninguém merece a falta reciprocidade. Enfim, entre um porto e outro nasceu uma outra mulher, uma mulher que prefere ficar só do que mal acompanhada, que é tomada como fria, ciente de que o próximo não tem culpa do que o anterior fez, que não quer viver qualquer história, se encostar em qualquer peito e se deixar apaixonar por qualquer pessoa.

Enfim, a vida não veio com um manual de instruções, mas pelo menos sei o que eu não quero. Não quero meias palavras, não quero palavras cheias de nada, não quero um amor e meio, não quero consertar corações partidos porque não sou nenhuma oficina. Eu estou solteira porque quero e isso não me faz infeliz.

 "Ah, mas tu és tão bonita. Por que estás solteira?"

Posso não ter certeza do que eu quero, mas sei muito bem o que não quero, por isso não me perguntes por quê ainda estou solteira!

Escrito por: Sheila Faiane

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