Eu me perdi de mim para te encontrar. Viajei o mundo inteiro na tua bagagem, sequer vi as paisagens, só te ouvi contar e cantar sobre as belezas que o mundo tinha para nós dois e eu nunca vi. Vivi na escuridão e nem percebi, pois me deixei envolver pelo cheiro da tua roupa, o beijo da tua boca, o som da tua voz e as declarações vazias de amor. Fui outro alguém para te acomodar, guardei meu ser no bolso e te entreguei o comando da minha vida.
Enquanto tu quiseste eu fui quem procuravas: mudei meu coração, meus ideais, engoli meu ego, escondi minhas imperfeições, parei de cantar no chuveiro para não te irritar, deixei de enxergar quem sempre me quis bem, troquei as gargalhadas por sorrisos meigos, deixei os palavrões e a minha cerveja para não te envergonhar, dilui minha essência nas tuas vontades e quando dei por mim eu já tinha apagado a minha luz - virei uma lagoa de águas claras, tão nítida, mas invisível aos teus olhos porque fizeste o meu fundo escuro.
A culpa não foi tua, pois eu te permiti e só não troquei meu nome porque tu sempre quiseste me chamar de amor. Amor esse que hoje eu não sei se foi real ou se tu apenas amaste a ideia que tinhas de mim. Enfim, hoje sei que a terra nunca foi firme e que a paixão era passageira, o sentimento era ligeiro e ninguém guiava o nosso trem. Trem esse que fazia as mesmas viagens, ia perdendo o sentido e a emoção a cada estação .
Por algum tempo andamos pelo mesmo caminho, mas depois o ritmo dos nossos passos criou um distanciamento, pois o meu eu já não cabia em ti e tu já não te enxergavas em mim. O espaço que nos separava deu lugar aos questionamentos e o questionamentos me levaram ao despertar e ao descontentamento: era carinho verdadeiro, mas era sentimento bom sendo depositado no lugar errado.
Tentamos ver o lado bom das coisas, mas no fundo sabíamos que não era para ser, pena que tivemos de nos magoar para entender. Enfim, vejo que a luz ficou mais clara agora que percebemos que fomos destinados a felicidade, mas que não é suposto vivemo-la juntos se for forçado. Não é justo que coloquemos em baixo do tapete as nossas verdades, quando existe alguém por aí que as quer amar. Ainda que não te resista, eu não sou o teu porto seguro, eu não sou aquela por quem darás a tua vida!
Escrito por: Sheila Faiane
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