Ninguém planeia um adeus inesperado, momentos de aflição e uma solidão forçada. Eu não esperava que me abandonasses tão cedo e de forma brusca, como se nunca tivesses feito diferença em minha vida. Fiz tantas perguntas, culpei a tudo e todos, quando bem lá no fundo eu sabia que o único culpado nisto tudo era o destino que me fez muito cedo entender o significado de: "até que a morte nos separe".
Me encontro
sentada diante de pessoas que me querem consolar, pergunto por quê tiveste
de partir tão cedo. Quem são estas pessoas que tanto te amavam e eu nunca
conheci? Quem são estas mulheres que querem ir contigo? Que choram como se
mundo tivesse acabado para elas?! Acorda e me diz, porque elas choram muito
mais do que eu e gritam que não há mais esperança, quando eu só consigo me
preencher de perguntas sem resposta.
Vagueia na minha
mente a ideia de que se não tivesses saído naquela noite, talvez estaríamos
apenas a discutir pelo facto de teres entregue as chaves do meu carro a outra
mulher, mas pelo menos estarias aqui e no fim do dia, eu iria te perdoar porque
sempre fui estúpida o suficiente para aceitar as tuas falhas, por ter medo de
começar do zero e me perder por aí. Agora me diz, valeu a pena? Honestamente,
apetece mesmo te acordar para saber há quanto tempo a conhecias ao ponto de, no
mais puro acto de egoísmo, confiares a tua vida e esquecer que o álcool nos
torna os piores super-heróis da história dos amantes.
Estou neste
momento a olhar para os nossos filhos que sequer estão a entender o que está a
acontecer, o que achas que devo contar quando por ti perguntarem todas as
noites? Que vivias mais no Matchedje Club do que em nossa casa? Que hoje
vivo de comprimidos porque foste negligente ao ponto de beber do veneno a seco
e me deixar doente também? Que me batias todas as noites quando eu me recusava
a ti quando para casa voltas com cheiros diferentes? Sorte tua é que eu nunca
fui esse tipo de mulher. Lembro-me que dizias que eu era jovem demais e que quando morresses eu encontraria alguém melhor que tu, hoje eu não sei o que fazer com essas palavras.
Onde quer que
estejas, fica tranquilo pois, apesar de nos teres deixado na mão, eu vou pintar
a tela da nossa vida com os tons mais bonitos. Eu quero que eles conheçam
apenas a capa que vestiste lindamente para me enganar e levar ao altar antes
que eu tivesse tempo para perceber que serias a minha pior escolha. Enfim, ao
menos da nossa desgraça nasceram dois meninos que um dia terão orgulho de um
pai que nunca existiu, mas eu vou fazer questão que eles de ti se lembrem
sempre e da melhor forma possível, ainda que me custe muito.
Confesso que bem
lá no fundo não sei se quero que descanses em paz, mas sorte tua é que eu
esqueço rápido e provavelmente vou me lembrar somente das coisas maravilhosas
que um dia fizeste por nós. Não foste de todo um cínico, houve dias de muita
alegria e é neles que vou tentar me concentrar agora, enquanto ouço as bocas
dos perfeitos. Eles dizem que fui eu quem te matou, eu acabei com a tua vida
por inveja, eu... a sério?! Me apetece gritar e contar que tu sim estragaste a
minha, que eu vou ter de reaprender a viver tendo como ponto de partida um
lugar escuro, sujo e incerto.
Agora vai, vai
embora dos meus pensamentos do mesmo jeito que foste embora da minha vida. Vou
rezar dia e noite para os que os teus demónios não te persigam, vai e descansa
com a pouca paz que te resta.
Mesmo relutante,
eu te amo.
Escrito por: Sheila
Faiane
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