Avançar para o conteúdo principal

Querido Ex

Lembras-te de quando namorávamos? Das juras de amor que fizemos e da mágoa que me causaste quando disseste adeus sem sequer me permitir entender onde eu tinha errado? Éramos crianças inconsequentes, mas pelo menos eu já entendia sobre sentimentos verdadeiros. Será que errei ao confiar em ti às cegas ou foste egoísta demais por decidir partir para um novo amor e esquecer que tinhas dito que eu devia me comprometer, dar o meu coração e te entregar a minha vida?

O pior de tudo não foi o adeus não dito, foi o silêncio e a tua covardia. Conseguiste ser o filho da mãe que juraste não ser e me deixaste de lado como se da tua vida nunca tivesse feito parte. Enfim, foi duro te ver abandonar o barco sem olhar para trás, trocar o chocolate negro e amargo pelo branco que te trouxe a verdadeira amargura. E eu, a estúpida, sempre aqui... pronta para te dar um abraço sempre que fosse necessário. Mas as coisas passam, não passam?! Foram anos de lutas internas, mas depois superei e agora acho engraçado como me senti tão pequena diante daquela situação, sem contar com a insegurança despertada e as noites passadas em claro na busca incessante por respostas às perguntam insistentes: "Por quê eu?", "Como pude ser tão cega e ingénua?", etc.

Anos se passaram e graças a Deus nossos caminhos continuam paralelos - na estupidez, várias vezes tentamos fazer com que nossos caminhos se cruzassem novamente, mas lá estavas tu a cometer os mesmos erros vezes sem conta. Só hoje percebo que não era para ser eterno, em tua vida sou apenas aquele lembrete de que podias estar a viver algo melhor, mas quem sou eu para te julgar quando existe o tempo para se encarregar disso?

Queria só que soubesses que não parei no tempo e as tuas cantadas não tem mais o mesmo efeito. Continuo a pensar em ti, agora de um jeito diferente e te tornaste exactamente o que não desejo mais ter do meu lado - estás tão enrolado na vida e tão longe do que deves ter desenhado para ti, que as vezes até dá pena te ver seguir viagem ao lado de uma mulher que te casou, não por amor, mas porque o tempo não perdoa a ninguém e a sociedade é um matadouro. De qualquer forma, continuo a desejar-te o melhor, embora saiba que o melhor tenha ficado para trás quando escolheste um amor mais complicado.

Não faças cara feia porque te digo a verdade e perdoa-me a falta de sensibilidade, mas é que dá raiva quando me procuras com segundas intenções. Ages como se o tempo te fosse fiel e eu também, não sei como podes acreditar que eu esperaria por ti e novamente aceitasse ser a tua segunda opção, mas desta vez por opção. Enfim, sei que esta carta não vai mudar a tua vida, mas era bom que começasses a ter mais juízo, para que pelo menos sirvas de bom exemplo para os teus filhos.

Com os melhores cumprimentos,

Ex

Escrito por: Sheila Faiane

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Memória e Reminiscência (lembrar e recordar)

Memórias, fragmentos de um tempo que se desfez com os ventos do passado, mas que permitiu-se deixar rastos para que de tudo um pouco eu carregasse no futuro. Memórias das trafulhices deixadas na infância, dos beijos mal beijados, dos “eu te amo” ditos em vão... memórias de um “eu”, que quisera eu ter ensinado que o mundo é mais fácil quando nos permitimos mais, quando amamos mais, quando queremos mais. Não existe um manual para vida. Talvez um Manuel! Então, eu me aconselharia a ouvir mais, deixar-me-ia envolver por cada palavra daqueles que em minha estúpida inocência um dia chamei intrometidos – os donos da razão, papá e mamã! Pois eles sabiam, eles sabiam e tudo que eu fiz foi fechar os meus ouvidos e fingir que era adulta o suficiente para não seguir seus mandamentos. Saudades, saudades do tempo em que a minha única preocupação era acordar e tentar ser feliz, ser sem noção sem me preocupar com o amanhã, pois o amanhã era apenas mais um dia. Mas ao mesmo tempo, ainda sinto

V A L É R I A

Meu nome é Valeria, tenho 30 anos, hoje afirmo veementemente que sou uma ex-prostituta e não tenho vergonha disso. Minha história não difere muito das outras, entrei nessa vida por opção e não por estar somente a passar por dificuldades. Sempre gostei de vida fácil, sei lá, desde criança que me puseram na cabeça que eu merecia um homem rico e que não precisava trabalhar – por conta da minha beleza e do meu corpo. Tudo começou quando me expus ao sexo pela primeira vez aos 15 anos, quando descobri que poderia ter tudo que quisesse, era só uma questão de dar uns minutinhos de prazer. Já perdi a conta de quantas vezes fui para cama com homens bem mais velhos, eles queriam-me a tempo inteiro e faziam de tudo por mim; tanto que hoje tenho carros, casas e sou feliz. Bem, feliz até ao momento que em que o candeeiro se apaga e fico à sós com a minha consciência, procurando o auxílio da ciência para tentar entender que força é essa que não me deixa entrar na abstinência de matar-me

Para Sempre Submissa

- Eu sei que ele me ama. Eu sei que ele me ama. Tenho certeza que é amor”  –  Repito vezes sem conta enquanto ele se prepara para dar-me mais uma bofetada. Nossa relação é assim, uma mistura de amor e ódio, mas damo-nos super bem do nosso jeito doce e picante.  Hoje ele acordou bem disposto e manso.  Fizemos amor como já não fazíamos há muito tempo, foi como na nossa primeira vez, gostoso e intenso. Milagrosamente tivemos uma manhã tranquila, tomamos banho juntos e ele até levou-me ao trabalho.  Durante o dia fomos trocando mensagens carinhosas com doces dizeres e muitas outras coisas que eu não sabia que ele ainda era capaz de falar. Quando eu menos esperava, chegou na minha sala um enorme buquê de dálias vermelhas (depois de tantos anos ele ainda sabia que eu amava dálias), fiquei eufórica, não me contive e mandei logo uma mensagem a agradecer pelo gesto. 1, 2, 3 horas se passaram e ele não disse mais nada. Quando chegou a minha hora de ir para casa, achei melhor