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I N D E F I N I D O



Perdeu a cor, perdeu o horizonte. Era doce, agora ninguém sabe mais que sabor tem. Era vermelho, agora é indefinido, agora ninguém sabe mais que cor tem. 

Eles dizem que ainda há esperança, mas eu só vejo um ponto final e não consigo me permitir enxergar além disso – é um jogo de emoções onde já me sinto perdedora sem sequer ter visto o placar... e foi tudo culpa da minha inconsequência, inconsistência e intransigência, tanto que hoje faço um dueto com a solidão.

Fechei as portas para um possível “felizes para sempre” e já não sei como terminar esta história de amor sem poder imaginar como seria se eu tivesse feito tudo certo. Quero de novo bater na tua porta, dizer que sinto a tua falta, mas eu sei que não te posso ter de volta, por isso desejo-te alguém melhor do que eu. Estou tão vazia que até as palavras deixaram-me, é assim quando se chega ao fim? Tipo, perdemos o norte e o sul, as luzes se apagam e o que era tudo vira nada?

Perdeu a cor, perdeu o horizonte. Era doce, agora ninguém sabe mais que sabor tem. Era vermelho, agora é indefinido, agora ninguém sabe mais que cor tem.

É engraçado como sempre parece a primeira vez, como se os outros remendos nunca tivessem existido. Mas consigo vê-los novamente e nitidamente porque deixaste mais um para a colecção. Ele foi bonito para ti, espero que nunca te esqueças disso, foi real, tal como aquele último abraço. Se pudesse eternizá-lo...

Tenho todos cacos no chão, meu coração estão quebrado e não sei por onde começar a recolher o que sobrou. As vezes até começo, mas então vem todas as lembranças e ele se quebra um pouco mais. O que foi que eu fiz connosco? O que foi que nós fizemos? Se não era para sempre, porquê nos permitimos tanto? Fui eu, não é? Eu prometi que ficaria do teu lado e que nunca abandonaria o barco, mas no primeiro obstáculo pulei e deixei-te a remar sozinho. Lamento por ter sido tão covarde.

Hoje carrego uma dor no peito que não se explica, não se define, vivo na vontade de voltar no tempo, de saber se existe uma magia para acabar com o sofrimento e se um dia vai ficar tudo bem;  se o ficar tudo bem significará paz no pensamento. Tenho medo que o tempo me desfaça e nos torne desconhecidos, nós que já dividimos uma vida, nós que partilhamos a cama, a calma e alma. 

Se é amor, se é infinito, porquê não existimos mais? Se era suposto sermos felizes, quando foi que perdemos a cor? 

Perdeu a cor, perdeu o horizonte. Era doce, agora ninguém sabe mais que sabor tem. Era vermelho, agora é indefinido, agora ninguém sabe mais que cor tem.

Escrito por: Sheila Faiane



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