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Vendo o meu coração | Não aceito devoluções


As vezes dou por mim a pensar que se calhar seria mais feliz sozinha: sem relação, sem a ideia de um relacionamento, sem homem, sem amante, sem amigo com benefícios, sem nada, apenas eu e eu. Mas então, num piscar de olhos já estou novamente apaixonada. Acho que sou burra, de verdade! Aquele tipo de burra que sabe que catou lixo, é sujo, de nada serve e ainda sim prova para ter certeza. Isto para dizer que, não é que eu não tenha noção dos lugares onde eu vou, eu tenho, mas não uso a cabeça para me guiar.

Não sei se vocês sabem, vocês que aparentam estar sempre felizes, existe um órgão do lado esquerdo do peito, que existe para mostrar que não ficamos cegos só quando perdemos a visão. Esse órgão, é capaz de nos fazer acreditar que já não há esperança, é sabotador. Contudo, também faz maravilhas, ele já me trouxe sentimentos eletrizantes, já amei “muito” nessa vida… o suficiente para não querer mais, por conta do amargo que sempre vem depois.

De qualquer forma, eu sinto que já vi tudo, já vivi e senti tudo, agora chega. Cansei de me iludir e me permitir, porque não é possível que estejam todos eles errados – talvez seja eu, que por conta do meu orgulho, jamais admitirei em voz alta. Talvez seja o meu jeito de ser, eu não sou como as outras, eu sou petulante, tenho os meus defeitos, minhas manias e chatices infindáveis, mas eu sei que sou uma boa mulher. Talvez seja esse meu espírito altivo, não sei, mas não consigo ser aquele tipo de mulher que aceita tudo e eles não gostam disso.

Enfim, não estou infeliz, mas a felicidade também só vem cá a casa uma vez a outra. Na maior parte das vezes me vejo acompanhada de saudade e desejo de um amor que ainda não vivi, sem saber se um dia realmente ele há de chegar. As vezes dói, as vezes é sinónimo de liberdade – nada de justificações, nada de questionamentos – mas quase sempre dói. Como temo a presença de mais um homem na minha vida, vivo na embriaguez e não falo sobre isso porque eles não precisam saber que por dentro eu estou a sofrer.

Dizem por aí que só amamos verdadeiramente uma vez e que ninguém cruza connosco na vida por acaso, então eu me pergunto: Será que nessas viagens poderei ter deixado partir o amor da minha vida? Porque é estranho, com esta minha idade, nesses anos todos, nada, ninguém?! Começo a acreditar nas histórias que a minha conta, sobre ter um marido da noite, não consigo encontrar uma razão que não me coloque no fogo cruzado.

Isto é um desabafo, não um apelo. Imagino que depois disto muitos virão com sede de mostrar que são diferentes dos outros. Eu já sei que será apenas papo de político e ainda que parte de mim queira, no momento não tenho as portas abertas ou predisposição para suportar paixões temporárias. Não são apetecíveis pessoas que só batem a porta do meu coração por curiosidade, que quando descobrem que sou uma galeria de arte contemporânea, vão embora por não entender.

Por isso, resolvi vender meu coração e não aceito devoluções. Ele está um pouco quebrado, talvez necessite de alguns remendos, mas se procurar enxergá-lo com olhos de ver, verá que vale a pena; é bonito, por dentro e por fora.

Escrito por: Sheila Faiane


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