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Eu não escolhi. Repito, eu não escolhi.



Por pessoas como tu, hoje eu desejei ser normal, desejei gostar de meninas tal como tu gostas, desejei não sentir nojo da ideia de tocá-las do mesmo que tu tocas. Mas eu não escolhi. Não sei se foi Deus, se foi esse tal de destino ou se foi algum ser sobrenatural que me fez assim, mas eu não escolhi.

Por pessoas como tu, hoje eu me ajoelhei perante a Deus e implorei por socorro. Implorei para nascer de novo e diferente, talvez assim eu nasça homem de verdade e te possa agradar.  Eu sei, minha mãe sempre me ensinou que não devo viver para agradar aos outros, mas desde que ela largou a minha mão para que eu conhecesse as verdadeiras atrocidades da sociedade, fiquei confuso.

Por pessoas como tu, hoje eu não tenho um lugar seguro para viver, não sei por onde começar e não sei mais o que fazer para não permitir que o meu “ser” vire o meu maior pesadelo. Mas eu não escolhi. Não sei o que fiz de errado para merecer isso, mas acho que hoje eu perdi meu pai, eu me perdi.

Queria apenas que percebesses que ser assim não me faz menos gente. Queria apenas que percebesses que as tuas palavras ferem. Queria apenas que percebesses que “acabaste de acabar” com uma vida que eu ainda planeava viver.

Querido ordinário, as tuas atitudes não te tornaram mais homem, infelizmente. Não percebo o que pretendias com aqueles dizeres absurdos, mas pelo menos sei que não te tornaste uma pessoa melhor por isso e, apesar de tudo eu sinto muito. Sinto muito por seres desdenhável e não saberes o que realmente significa ter respeito por outrem, sinto muito por teres os olhos vendados para a insignificância dos teus "princípios", sinto muito por seres tu.

Eu estou zangado, estou zangado por me ter deixado tão vulnerável, por não ter respondido as tuas provocações, mas isso faria de mim um homem que eu não sou. Estou zangado pela ingenuidade que carrego dentro de mim, por achar que poderia viver livre. Estou zangado por não ter como me defender, por ter sido fraco e por te ter permitido. 

Tomaste uma decisão por mim, saíste do armário por mim e isso eu não sou capaz de perdoar. Foi uma escolha tua definir-me diante dos outros, sem que soubesses se eu estava pronto para tal. Esse direito não era teu, porque eu não escolhi. Mas obrigada, obrigada por me ensinar mais uma vez no que eu não devo me tornar.

Eu não escolhi. Repito, eu não escolhi.

Escrito por: Sheila Faiane

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