Pensei várias vezes em escrever-te e nessas várias vezes, devo ter desistido umas mil e uma vezes. Hoje não consegui dormir com as minhas palavras, não consegui dormir com a dor que me tens causado há 10 anos. Hoje é o nosso aniversário de casamento e como de costume, preparei um jantar especial, mas a comida já esfriou, as velas já derreteram e a minha impaciência já acabou a garrafa de vinho. Mais uma vez ele disse que tinha uma reunião muito importante e que chegaria tarde, mas eu sei que ele está aí.
Honestamente, a vontade que tenho
é de pegar nas minhas chaves e ir até a tua casa, dar-te umas boas, chamar-te
todos os nomes que me vem a cabeça e carregar esse palhaço, mas sei que nada
disso vai resolver, não me vai trazer paz, talvez uma multa (estou bêbada).
Tenho tanta coisa na cabeça agora, mas o que eu gostava mesmo de saber é como
consegues colocar a cabeça no travesseiro todos os dias e ter noites
tranquilas. Será que não te pesa o coração saber que o homem com quem dormes
tem um filho que também precisa do carinho que recebes? Falo só do meu filho
porque eu mesma já me excluí da vida dele e olha que eu tentei, juro que
tentei.
Perdi a conta de quantos kulayas
participei, perdi a conta de quantas conversas já tive com as minhas tias mais
velhas ou com a minha mãe, e das vezes que chorei nos braços da minha sogra.
Desabafei tudo e mais alguma coisa: desde as brigas até ao sexo que não é feito
há séculos. Todas elas me disseram que o lar é assim, faz parte e que se eu
quisesse manter o casamento tinha de fechar os olhos para tudo que me estava a
acontecer. Houve quem de cara bem lavada tenha-me dito que eu devia aliar-me a
ti, virar a tua amiga e quem sabe assim poderíamos gerir melhor o Luís. Diz-me
lá Tânia, de mulher para mulher, achas que faz sentido isso?
Levou o seu tempo, mas hoje já
percebo que não sou a culpada de tudo isto que está a acontecer. Posso até ter
errado em vários aspectos, não sou perfeita, mas nenhuma mulher merece ser
tratada com desrespeito. Antes de ontem ele chegou a casa de madrugada, pôs-se
aos berros porque não guardei a comida na geleira e que estava a esbanjar.
Noutros tempos eu teria pedido desculpa, mas achei piada, aquilo foi motivo
para me chamar de arrogante e estúpida. Tudo isto por auferir um salário maior
que o dele, então ele diz que eu lhe faço sentir menos. Tem sido assim e tende
a piorar, mas agora eu já perdi a paciência.
Ontem ele entregou-me os papéis
do divórcio, mas não assinei, acho que precisava processar. Não fiquei
espantada, o nosso casamento terminou há muito tempo, eu é que vinha
insistindo. Sei que ele te prometeu casamento, as notícias correm minha
querida, mas pena que não acontece o mesmo no sentido contrário. Sabias que
tens uma rival? Chama-se Deise, deve ser uns quinze (anos) mais nova que o
Lulu. Vi umas fotos e a miúda tem presença, espero que não te sintas ameaçada.
É daquelas que tem caprichos básicos, não é como tu, talvez tenhas cabedal para
sustentar isso tal como fiz contigo.
Sim querida, o teu homem cuida de
ti, mas parte das coisas que tens hoje também são fruto do meu suor. Enfim, só
quero mesmo desejar-te boa sorte, porque estou aqui a assinar os papéis e
depois vou arrumar as malas dele, logo, amanhã vais ter o marido que sempre
quiseste. Não estou triste, vou olhar para isto como mais uma chance para ser
feliz, mas estou com pena de ti.
Escrito por: Sheila Faiane
😍😍😍
ResponderEliminarLindo texto
A história é de arrepiar
ResponderEliminarMuito lindo o texto 😍😍👏🏼👏🏼