Sheila Faiane

Pensei várias vezes em escrever-te e nessas várias vezes, devo ter desistido umas mil e uma vezes. Hoje não consegui dormir com as minhas palavras, não consegui dormir com a dor que me tens causado há 10 anos. Hoje é o nosso aniversário de casamento e como de costume, preparei um jantar especial, mas a comida já esfriou, as velas já derreteram e a minha impaciência já acabou a garrafa de vinho. Mais uma vez ele disse que tinha uma reunião muito importante e que chegaria tarde, mas eu sei que ele está aí. Honestamente, a vontade que tenho é de pegar nas minhas chaves e ir até a tua casa, dar-te umas boas, chamar-te todos os nomes que me vem a cabeça e carregar esse palhaço, mas sei que nada disso vai resolver, não me vai trazer paz, talvez uma multa (estou bêbada). Tenho tanta coisa na cabeça agora, mas o que eu gostava mesmo de saber é como consegues colocar a cabeça no travesseiro todos os dias e ter noites tranquilas. Será que não te pesa o coração saber que o homem com quem dormes...

Procuro alguém que não questione os meus desejos absurdos, que seja tão idiota quanto eu, para aceitá-los e quem sabe mergulhar neles. Não sou muito exigente, só precisas entender que amar não é prender, amar não é querer mudar, isso se chama sufoco. Tem de ser estudado e interessado em palavras. É que aqui em casa gostamos de nos expressar muito bem e uma boa comunicação será uma das principais chaves para o sucesso da nossa relação. Procuro alguém que não tenha uma família dramática como a minha, é que de vez em quando eu vou precisar fugir para um lugar sossegado. Não te preocupes que, eu posso até ser preguiçosa, mas por gostar de comer, quando eu for a tua casa vou cozinhar. Não prometo ajudar com o resto, nesse aspecto sou um pouco antiquada, é aquele tipo de coisas que só aceito fazer quando tiver um anel no dedo e… na nossa casa. Olha, eu sou um pouco chata, um pouco confusa, mas se tiveres um pouco de paciência, vais me amar a vida toda. As vezes tenho un...

Lembras-te de quando nos conhecemos? Havia tanta incerteza, não sabíamos se daria certo e se realmente tínhamos sido feitos um para o outro, mas ainda assim fechamos os olhos e com um beijo selamos um compromisso: juntos até um dia. Hoje eu olho a minha volta e não te vejo mais, parte de mim quer voltar no tempo e a outra está feliz por poder recomeçar: hoje somos dois estranhos, tornando-se amigos, não é engraçado? Foi assim que começamos, mas desta vez partimos do fim e não há futuro possível. A cada passo que eu dou do adeus, penso que talvez ainda dê para voltar ao que me era familiar, porque assim talvez tudo será mais fácil, mas por outro lado, sendo racional acho que talvez seja melhor fechar o livro e guardar no coração o que de bom ensinamos um ao outro. É, a única saída é aceitar a verdade, o momento e o ontem, sem necessariamente vivê-los. Ainda lembro do toque, do cheiro, mas depois me lembro como fomos errados em algum momento e que nem tudo acontece no nosso...